27 de dez. de 2010

Grandes Dificuldades do Seca Bodega.

Queridos (as) Amigos (as),

Desde o último dia 25 que me encontro na praia de tabatinga, litoral sul do Rio Grande do Norte, onde devo permanecer até o final de janeiro de 2011.
Devido as péssimas condições de trabalho as postagens serão escassas, explico: Todo e qualquer sinal de operadora de telefonia celular é rarefeito - sinto saudades da internet discada, por aí vocês vão percebendo minha dificuldade; quebrei meus óculos de grau, meu nariz adentra a tela do computador; ganhei de presente natalino duas caixas de cachaça mineira com o compromisso de eleger a melhor delas até o dia de reis; o mar está muito azul e o sol teima em aparecer todos os dias e permanecer altivo até às 17 horas enfim, são problemas que enfrentarei com muita luta.
Caso o (a) prezado (a) amigo (a) encontre uma solução para os problemas que venho enfrentando, por favor envie-o através de comentários logo abaixo.
Amanhã espero ter algo mais substancioso para postar.


Da Praia de Tabatinga, litoral sul do Rio Grande do Norte, para o mundo.

23 de dez. de 2010

Natal, pra vc.

Último pronunciamento do presidente Lula.

Pronunciamento à Nação do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em cadeia nacional de rádio e TV, por ocasião do final de ano


Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Dentro de poucos dias deixo a Presidência da República. Foram oito anos de luta, desafios e muitas conquistas, mas, acima de tudo, de amor e de esperança no Brasil e no povo brasileiro. Com muita alegria, vou transmitir o cargo à companheira Dilma Rousseff, consagrada nas urnas em uma eleição livre, transparente e democrática, um rito rotineiro neste país que já se firmou como uma das maiores democracias do mundo.
É profundamente simbólico que a faixa presidencial passe das mãos do primeiro operário presidente para as mãos da primeira mulher presidenta. Será um marco no belo caminho que o nosso povo vem construindo para fazer do Brasil, se Deus quiser, um dos países mais igualitários do mundo. País que já realizou parte dos sonhos dos seus filhos, mas que pode e fará muito mais para que este sonho tenha a grandeza que o brasileiro quer e merece.
Minhas amigas e meus amigos,
Hoje cada brasileiro e brasileira acredita mais no seu país e em si mesmo. Trata-se de uma conquista coletiva de todos nós. Se algum mérito tive, foi o de haver semeado sonho e esperança. Meu sonho e minha esperança vêm das profundezas da alma popular, do berço pobre que tive e da certeza que, com luta, coragem e trabalho a gente supera qualquer dificuldade. Quando uma pessoa do povo consegue vencer as dificuldades gigantescas que a vida lhe impõe, nada mais consegue aniquilar o seu sonho nem sua capacidade de superar desafios. E quando um país como o Brasil, cuja maior força está na alma e na energia popular, passa a acreditar em si mesmo, nada, absolutamente nada detém sua marcha inexorável para a vitória.
Foi com essa energia no peito que nós, brasileiros e brasileiras, afugentamos a onda de fracasso que pairava sobre o país quando assumimos o governo. Agora estamos provando ao mundo e a nós mesmos que o Brasil tem um encontro marcado com o sucesso.
Se governei bem foi porque, antes de me sentir presidente, me senti sempre um brasileiro comum que tinha que superar suas dores, vencer os preconceitos e não fracassar. Se governei bem foi porque, antes de me sentir um chefe de Estado, me senti sempre um chefe de família, que sabia das dificuldades dos seus irmãos para colocar comida na mesa, para dar escola para seus filhos, para chegar em casa todas as noites a salvo dos perigos e da violência. Se governamos bem foi, principalmente, porque conseguimos nos livrar da maldição elitista que fazia com que os dirigentes políticos deste grande país governassem apenas para um terço da população e se esquecessem da maioria do seu povo, que parecia condenada à miséria e ao abandono eternos.
Mostramos que é possível e necessário governar para todos, e quando isso se realiza, o grande ganhador é o país.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil venceu o desafio de crescer econômica e socialmente, e provou que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. Construímos, juntos, um projeto de nação baseado no desenvolvimento com inclusão social, na democracia com liberdade plena e na inserção soberana do Brasil no mundo. Fortalecemos a economia sem enfraquecer o social, ampliamos a participação popular sem ferir as instituições, diminuímos a desigualdade sem gerar conflitos de classes, e imprimimos uma nova dinâmica política, econômica e social ao país sem comprometer uma sequer das liberdades democráticas.
Ao receber ajuda e apoio, o nosso povo deu uma resposta dinâmica e produtiva, trabalhando com entusiasmo e consumindo com responsabilidade, ajudando a formar uma das economias mais sólidas e um dos mercados internos mais vigorosos do mundo. Em suma: governo e sociedade trabalharam sempre juntos com união, equilíbrio, participação e espírito democrático.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil demonstra, hoje, sua pujança em obras e projetos que estão entre os maiores do mundo e vão mudar o curso da nossa história. Me refiro às obras das hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte; às refinarias de Pernambuco, Rio de Janeiro, Maranhão e Ceará; às estradas que vão abrir rotas inéditas e estratégicas, como as ligações com o Pacífico e o Caribe; e às ferrovias Norte-Sul, Transnordestina e Oeste-Leste; além do projeto em licitação do trem de alta velocidade, que vai ligar São Paulo e Rio.
Também estamos fazendo os maiores investimentos mundiais no setor de petróleo, principalmente a partir da descoberta do pré-sal, que é o nosso passaporte para o futuro. Ele vai gerar milhões de empregos e uma riqueza que será, obrigatoriamente, aplicada no combate à pobreza, na saúde, na educação, na cultura, na ciência e tecnologia, e na defesa do meio ambiente. Estamos, ainda, realizando um dos maiores projetos de combate à seca do mundo: a transposição das águas do São Francisco, que irá matar a sede e diminuir a pobreza de milhões e milhões de nordestinos.
Ao mesmo tempo em que realiza grande obras, o Brasil, acima de tudo, cuida das pessoas, em especial das pessoas mais pobres. Temos, hoje, os maiores e mais modernos programas de transferência de renda, segurança alimentar e assistência social do mundo. Entre eles, o Bolsa Família, que beneficia quase 13 milhões de famílias pobres e é aplaudido e imitado mundo afora.
Nosso modelo de governo também permitiu que o salário-mínimo tivesse ganho real de 67% e a oferta de crédito alcançasse 48% do PIB em 2010, um recorde histórico. O investimento em agricultura familiar cresceu oito vezes e assentamos 600 mil famílias, metade de todos os assentamentos realizados no Brasil até hoje.
Com o Luz para Todos, levamos energia elétrica a 2 milhões e 600 mil pequenas propriedades, e, através do Minha Casa Minha Vida, estamos construindo 1 milhão de moradias, e as famílias que recebem até 3 salários-mínimos serão as mais beneficiadas. Na área da saúde, tivemos vários avanços como o Samu, o Brasil Sorridente e as Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, que estão sendo construídas Brasil afora. Triplicamos o investimento em educação, elevando a qualidade de ensino em todos os níveis. Inauguramos 214 escolas técnicas federais, mais do que foi feito em cem anos, e implantamos 14 novas universidades e 126 novas extensões universitárias em todas as regiões do país. O ProUni beneficiou 750 mil jovens de baixa renda com bolsas universitárias.
Meus amigos e minhas amigas,
Há muitos outros motivos que reforçam nossa confiança no futuro do Brasil. Temos quase US$ 300 bilhões de reservas internacionais próprias, dez vezes mais do que tínhamos no início do nosso governo. Nossa taxa média anual de crescimento dobrou. Agora, em 2010, por exemplo, vamos ter um crescimento recorde de quase oito por cento, um dos maiores do mundo. E outras quatro grandes conquistas provam, com força simbólica e concreta, que nosso país mudou de patamar e também mudou de atitude. Geramos 15 milhões de empregos, um recorde histórico, e hoje começamos a viver um ciclo de pleno emprego. Promovemos a maior ascensão social de todos os tempos, retirando 28 milhões de pessoas da linha da pobreza e fazendo com que 36 milhões entrassem na classe média. Zeramos nossa dívida com o Fundo Monetário Internacional, e agora é o Brasil que empresta dinheiro ao FMI. Ao mesmo tempo, reduzimos, como nunca, o desmatamento na Amazônia.
A minha maior felicidade é saber que vamos ampliar todas essas conquistas. Minha fé se alicerça em três fundamentos: as riquezas do Brasil, a força do seu povo e a competência da presidenta Dilma. Ela conhece, como ninguém, o que foi feito e como fazer mais e melhor. Tenho certeza de que Dilma será uma presidenta à altura deste novo Brasil, que respeita seu povo e é respeitado pelo mundo. Este país que, depois de produzir seguidos espetáculos de crescimento e inclusão, vai sediar os dois maiores eventos do Planeta: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Este país, que reduziu a desigualdade entre as pessoas e entre as regiões, e vai seguir reduzindo-a muito mais. Este país, que descobriu que não há maior conquista do que recuperar a autoestima do seu povo.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Quero encerrar com um pedido enfático e um agradecimento profundo. Peço a todos que apoiem a nova presidenta, assim como me apoiaram em todos os momentos. Isso também significa cobrar, na hora certa, como vocês souberam me cobrar. A cobrança foi um estímulo para que a gente quisesse fazer sempre mais, e o amor de vocês foi a minha grande energia e o meu principal elemento.
Agradeço a vocês por terem me ensinado muitas lições e por terem me fortalecido nas horas difíceis, e ampliado a minha alegria nas horas alegres. Saio do governo para viver a vida das ruas. Homem do povo que sempre fui, serei mais povo do que nunca, sem renegar o meu destino e jamais fugir à luta.
Não me perguntem sobre o meu futuro porque vocês já me deram um grande presente. Perguntem, sim, pelo futuro do Brasil e acreditem nele porque temos motivo de sobra para isso. Minha felicidade estará sempre ligada à felicidade do meu povo. Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado; onde houver uma mãe ou um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto; onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível. Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos meus dias. Mais que nunca, sou um homem de uma só causa e essa causa chama-se Brasil. Um feliz Natal e um próspero Ano Novo, e muito obrigado por tudo.

Reflexão sobre Natal.


SERENATA DO PESCADOR
(PRAIEIRA)


Praieira dos meus amores,
Encanto do meu olhar!
Quero contar-te os rigores
Sofridos a pensar
Em ti sobre o alto mar...
Ai! Não sabes que saudade
Padece o nauta ao partir,
Sentindo na imensidade,
O seu batel fugir,
Incerto do porvir!

Os perigos da tormenta
Não se comparam querida!
Às dores que experimenta
A alma na dor perdida,
Nas ânsias da partida
Adeus à luz que desmaia,
Nos coqueirais ao sol-pôr...
E, bem pertinho da praia,
O albergue, o ninho, o amor
Do humilde pescador!

Quem vê, ao longe, passando
Uma vela, panda, ao vento,
Não sabe quanto lamento
Vai nela soluçando,
A pátria procurando!
Praieira, meu pensamento,
Linda flor, vem me escutar
A história do sofrimento
De um nauta, a recordar
Amores, sobre o mar!

Praieira, linda entre as flores
Deste jardim potiguar!
Não há mais fundos horrores,
Iguais a este do mar,
Passados a lembrar!
A mais cruel noite escura,
Nortadas e cerração
Não trazem tanta amargura
Como a recordação,
Que aperte o coração!

Se, às vezes, seguindo a frota,
Pairava uma gaivota,
Logo eu pensava bem triste:
O amor que lá deixei,
Quem sabe se inda existe?!
Ela, então, gritava triste:
Não chores! Não sei! Não sei...
E eu, sempre e sempre mais triste,
Rezava a murmurar:
“Meu deus quero voltar!”

Praieira do meu pecado,
Morena flor, não te escondas,
Quero, ao sussurro das ondas
Do Potengi amado,
Dormir sempre ao teu lado...
Depois de haver dominado
O mar profundo e bravio,
À margem verde do rio
Serei teu pescador,
Ó pérola do amor!

OTONIEL MENEZES

Um Natal para Natal.

Estou sentado embaixo de uma velha mangabeira na minha residência na ainda charmosa Vila de Ponta Negra em Natal,   olhar pensativo, alma um pouco angustiada, mente em rebuliço, irrequieto. Penso em Natal; como ela está sofrendo.
Após várias administrações, umas avançadas outras discutíveis, Natal se encontra perplexa, inerte, silenciosa fruto de uma governante que sempre achou que poderia cuidar dela como se gerisse seus negócios particulares e isso empobrece o espírito público, afasta o ser humano da sua vontade e do orgulho de ser natalense.
Não se consegue enxergar uma ponta de humanidade na cidade do Natal, caos em todos os setores e uma enorme e estúpida vontade da sua administradora em não ouvir o que nós precisamos, queremos e necessitamos.
Mas, é natal ! E que Natal possa reagir nesse natal levada pelo desejo dos Homens de paz, fraternidade, prosperidade e, acima de tudo, que Natal volte a ser a cidade dos encantos, dos amores e dos poetas.
Precisamos de Natal, que nos devolva-a!
Feliz Natal!! Natal

PS.: Ah, que a prefeita seja bem sucedida na sua cirurgia e uma boa recuperação. 

22 de dez. de 2010

Poesia de Tolstoi

Colho palavras
"O segredo da felicidade não é fazer sempre o que se quer, mas querer sempre o que se faz"

Leon Tolstoi

Nasce em mim poesia
como agua de uma fonte
colho palavras na maresia
colho palavras no horizonte.
Ganho asas como uma andorinha,
a alma abre a sua janela,
enquanto a noite se avizinha
dou graças á vida e como ela é bela.
Tudo tem o seu reverso,
os seus ciclos, as suas transformações.
Mas o que conta no universo
são as nossas convicções.

Oswald Barroso: Sertão de Poesia

Oswald Barroso: Sertão de Poesia

O Cedro que eu conheci no início dos anos oitenta do século passado ainda era o município de pequenos sitiantes produtores de algodão, com a usina de sua cooperativa agrícola, a escola técnica e várias indústrias em pleno funcionamento, além de um comércio muito ativo, ares de antigo centro ferroviário, lugar próspero, onde corria algum dinheiro na zona rural e se podia contratar um cantador de viola ou um sanfoneiro dos bons para uma noitada inteira.

Por Oswald Barroso*

Talvez por isso, guardasse marcas da pequena Atenas cabocla que fora, espécie de São José do Egito cearense(1) , ou de Assaré de Patativa, já que naqueles sítios, apesar da faina intensa sobrava tempo para ouvir rádio e sonhar poesia.


Imagino que ali, durante a primeira metade do século 20, quando Idalzira nasceu, o cabra em vez de nascer chorando, como costuma acontecer, já nascia cantando, porque versejar era como falar. Então, veja lá, havia dentro de casa o pai João Bezerra, exímio poeta, e Joan ainda fala de um “Tio Clóidio” que na certa por ali andava. Além do mais, é preciso lembrar, o Cedro não por acaso ser berço de Geraldo Amâncio, um dos maiores cantadores brasileiros da atualidade, nascido exatamente nos meados dos mil e novecentos. Poesia, portanto, no meio em que Idalzira foi criada, era patrimônio familiar e comunitário, pra lá de literatura e arte, assunto cotidiano, jogo e divertimento, motivo para disputa, exibicionismo, duelo e desafio.


Sob inspiração das musas eram organizados torneios, festivais, com gêneros diversos de disputas, que incluíam perguntas e advinhas. Provas nas quais os contendores, homens ou mulheres, careciam mostrar poderes mágicos com as palavras, através de arranjos intrincados de sons, e arrotar valentia, como se estivessem manejando espadas invisíveis. Conforme o caso, precisavam fazer tremer o inimigo com versos indecifráveis e rimas terríveis, ou comover o coração das mais resistentes donzelas com a narrativa de romances enternecedores.
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Talvez, principalmente, da intimidade do lar se nutrisse aquela poética, porque naqueles sítios de então, a vida se completava em rima. Digo pela forma como Idalzira fala de sua própria experiência: “Eu rimo quando estou triste/Para as mágoas espantar/Rimo quando tenho saudades/Pois é muito feio chorar/Rimo quando estou contente/Rimo quando estou ausente/Querendo te abraçar.” E de jogos e brincadeiras, as rimas se espalhavam por afetos, sentimentos, desejos, angústias, saudades, aflições, em conversas de salas, cozinhas, alcovas e alpendres principalmente. Demoravam-se em sessões nas quais a palavra falada, cantada de preferência, medida, exata, bem escolhida, era cultivada e cultuada, debulhada em cordéis, fabulada em histórias que narravam desde os mitos da origem dos tempos até a última novidade apregoada na feira ou ouvida no rádio.


Em sítios assim, orgulho maior é ser membro de uma prole de poetas, trovadores, repentistas ou especialistas outros do verso, como a família Bezerra de Idalzira. Não por acaso, Erivan, o caçula, perde completamente a modéstia para seguir a tradição, quando afirma sua pertença a esse clã. Diz ele, numa bela quadra: “Eu sou a pedra turquesa/Minha mãe é uma safira/Sou filho de Idalzira/Poeta por natureza.” E não está mentindo, pois se trata de uma família onde o cultivo da arte poética é bem herdado, estando justificada a admiração recíproca, embora, como afirma com autoridade Joan, o filho mais velho, a mestra indiscutível seja a mãe.


xxx


Visitei o Cedro, quinze anos depois de haver lá morado, dessa vez como repórter, e também Morada Nova, outro município onde havia do mesmo modo trabalhado como educador em cooperativas de pequenos produtores de algodão. Outra era a realidade. Distritos e sítios esvaziados, plantações abandonadas. Comércio mais ativo só no dia de pagamento dos aposentados. A população envelhecera, o interior definhara. No Cedro as poucas indústrias, casas de comércio maiores e centros educacionais haviam fechado. A juventude emigrara. Nos sítios, principalmente, estabelecera-se um sentimento de abandono na fala dos velhos.


Talvez por isso, a sensação que me veio ao ler a carta de Idalzira para Joan sobre o mote: “De uma casa cheia de gente/Só resta um gato e um cancão”, foi o de estar frente a uma nova “Triste Partida”, de um canto social, como o de Patativa do Assaré. Um canto de tristeza dos que ficaram e, porque não dizer também, dos que partiram. De uma família de sitiantes que vê seus filhos irem-se, um a um, às vezes para nunca regressarem. Por isso, o canto de Idalzira é geral e dói além de sua dor particular. É a dor do migrante e de sua terra, é a dor de dois terços do mundo. É a dor de um coração partido.


Mas a dor de Idalzira é também só dela e única, porque se foi Joan e depois, tão menino ainda, Erivan, o caçula. Logo ele. Nem adiantou o consolo da visita à residência universitária e o conselho ao filho, de colocar na parede uma gravura do sol brincando com a lua, no lugar da foto de uma mulher nua (na certa por causa da rima, pois ela queria certamente era que o filho colasse a gravura de uma santa). Nada preenche o vazio na casa após a partida dos filhos. Nem os bichos: “O cancão, meu grande amigo/Canta e pula sem parar/O gato fica a miar/Pensando que não lhe ligo/Porém baixinho lhe digo/Não tenha ciúme não/Que é grande meu coração/Amo a todos igualmente./De uma casa cheia de gente/Só resta um gato e um cancão...”


Se para quem fica o vazio não tem tamanho, para quem vai a dor tem a mesma proporção, como mostram esses versos antológicos de Joan: “Volto a pegar no papel/Pra mais uma vez escrever/Tentar assim combater/Esta saudade cruel/Que amarga como fel/Corrói o peito da gente/Dá uma dor tão pungente/Que quase eu dou razão/A quem mata a solidão/Em um copo de aguardente.”
"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente".
Fernando Pessoa
E o que é tão grande para uma mãe quanto o vazio de uma casa sem os filhos? Um vazio que nem a zoada de um cancão e de um gato, de madrugada pedindo comida, abala? O que pode preencher a espera de uma mãe solitária enquanto sonha em reunir a família no final do ano? A poesia, Sultão! Responderia a princesa Sherazade.


A maga Idalzira também é iniciada nesse segredo. Para preencher o vazio de seu mundo, armou uma dimensão de versos e rimas. Fez-se aranha rainha, lançou suas linhas e estendeu sua teia entre os caibros, ligando filhos e netos. Dor e solidão, distância e separação, espera e abandono tratou de encantar em poesia. Por carta novamente a prole dos Bezerra deu corpo ao Cedro do velho João. Fez reviver os romances de amor, o lirismo dos trovadores, mas também os torneios cavaleirescos, os desafios, as disputas, os repentes, o humor corrosivo, o sarcasmo até, a valentia, a pabulagem, a briga, a dor, a traição, o ciúme, a intriga (por que não?), todos eles ingredientes indispensáveis para uma cantoria cheia de suspense ou para um cordel repleto de imprevistos.


Na correspondência mantida entre Idalzira, filhos e neta, a vida se faz arte e a realidade se encanta em ficção. Entre afetos e notícias trocados por mãe e filhos, os poetas inserem ingredientes propositalmente artísticos. Primeiro são os filhos que, brincando, fingem querer suplantar a mãe na arte poética. Ela como resposta lhes dá um puxão de orelha: – Respeita Januário! Depois, Joan e Erivan disputam a atenção e o amor de Idalzira simulando brigar por ela. Tudo para impressionar a mãe. E saem por aí, trocando rima, se exibindo para Idalzira, travando desafios, fingindo que a luta é só de brincadeira, pra mãe não se chatear com a arenga dos filhos. Em seguida, vêm os desafios lançados dos filhos à mãe e aceitos para saudar com versos cada neto que nasce, cada filho que casa, cada novo acontecimento na família. Mais adiante, é Joan que, para chamar atenção, se mostra escandalizado com o casamento da irmã e inventa de fazer graça, transformando aquilo num fato extraordinário.


A verdade é que nessa correspondência poética, não se sabe em que direção vai o fingimento, se no sentido de fazer a dor parecer maior para torná-la mais eficazmente artística, ou se no sentido de fazê-la artística para que se torne mais suportável. Não se pode precisar se a queixa da mãe é um pretexto para fazer poesia ou se fazer poesia é uma forma da queixa não se tornar aborrecida (porque sempre com muito bom humor), ou seja, da queixa poder ser feita reiteradamente, isto é, de fingir estar usando o pretexto da queixa para fazer poesia, quando a mãe quer mesmo é se queixar da falta de notícias do filho. Daí vem o dito de Fernando Pessoa colocado na abertura desse texto.


Muitas são cartas comuns como as de mãe orientando o filho, aconselhando o filho que se candidatou a vereador, ou a do filho consolando a mãe saudosa, outras da mãe com críticas e comentários políticos, mas há até mesmo cartas inusitadas como a do filho dando conselhos à mãe, escrita por ele como se aconselhasse uma filha, com muito humor e descontração. Depois entra a neta Geórgia na conversa e mantém o nível poético da correspondência, agora entre avó, filhos e neta.


Afinal, são cartas que ajudam a transformar a saudade em arte, a dor em vida, a solidão em beleza. Cartas que viraram atração entre os amigos de Joan e Erivan, lidas para o coletivo de estudantes. Cartas que, acima de tudo, revelam um imenso amor entre os três, agora quatro, sentimento bem traduzido nesses versos de Erivan para a mãe: “Me despeço de antemão/Já com saudade no peito/Mas sinto que é o jeito/Pois o tempo é um balão/Voando de hora em hora/Minha vontade era agora/Lhe mandar meu coração.”


Por tratar-se de um livro de correspondência poética, entre uma mãe e os seus, a obra já teria assegurado seu interesse e sua originalidade. De quebra, Idalzira ainda nos brinda com uma série de sonetos e outros poemas, em que fala de sua vida, de seus sentimentos, de sua família, de seus alunos e de sua terra, o Cedro. Trata-se, além do mais, de uma crônica do cotidiano rural, de um rico testemunho dos costumes, da política, da vida nos sítios, dos valores morais e do imaginário de uma vila sertaneja, onde ainda havia tempo e espaço para traduzir o mundo em poesia.


(1) Município do Alto Sertão do Pajeú pernambucano, berço de tantos poetas e cantadores famosos, entre os quais Rogaciano Leite e os irmãos Batista, Lourival, Dimas e Otacílio.


* Oswald Barroso é professor universitário, poeta, dramaturgo e pesquisador da cultura popular




Transcrevi do portal vermelho: www.vermelho.org.br

21 de dez. de 2010

Silence - Jan Garbarek,Egberto Gismonti,Charlie Haden

Homenagem a  bela Lua na Vila de Ponta Negra/Natal/RN

George Câmara Parlamentar do Ano: Reconhecimento a uma história de Lutas !

Soube agora há pouco da eleição do vereador George Câmara como o parlamentar do ano, nada mais justo para um amigo e camarada que tem travado, ao longo da sua militância política, tantas lutas em defesa da democracia, do bem estar das pessoas e quem tem pautado essa luta com honradez, dignidade e muita altivez.
Conheço o vereador George desde os gloriosos anos de resistência à ditadura na UFRN eu estudante de estatística, e ele no curso de direito, juntos com tantos outros companheiros e companheiras aprendíamos na imensidão do campus universitário as letras do saber conjugada com a visão de que o mundo pode e deve ser mudado para satisfazer as necessidades dos Homens.
Ao camarada George os parabéns daqueles que fazem o glorioso Partido Comunista do Brasil.

A sede é grande.

Estou quase no nono mês, o parto vem se aproximando e a vontade de comemorar com o mundo está quase incontrolável, falta um pouco mais.
Após o rebento prometo ser tagarela e falar algumas coisas que venho ouvindo e vendo na barriga do mundo.
Não serei ácido, apenas um pretenso guardião da minha cidade Natal, do meu Rio Grande do Norte e do meu querido Brasil enfim, vou procurar dialogar com todas as pessoas que amam as coisas boas, e elas são muitas, e aprender sempre mais com a vida e a minha militância política.
Exemplo do quero falar/escrever? A atual administração de Natal, outro? O governo da Rosalba Ciarlini (ou será Ciarline?) e/ou coisas que me dão enorme prazer: Fluminense, Cachaça, Música... é querer demais? espero  não secar a bodega tão cedo.
Então vou tratar de nascer o mais rápido possível.